sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Mobilização social nas organizações, um dispositivo dialógico para a Sustentabilidade

Para iniciarmos esta conversa precisamos passar por vários pontos de reflexão. De um lado mais romântico podemos nos perguntar e ousar perguntar aos que nos lêem – Como que um determinado projeto, sonhado em uma única cabeça se torna um sonho plural? E como este projeto pode se tornar autônomo, tão de todos aqueles que por ele são afetados e também por aqueles que não o são?

Trata-se de qualquer projeto social, de qualquer projeto arquitetônico, de qualquer projeto educacional, de um movimento político da sociedade, de qualquer ação ambiental, enfim de qualquer sonho ou vontade, sonhado por alguém ou alguma organização que tem por objetivo multiplicá-lo.

A próxima reflexão nos remete à mobilização. Por conceito a mobilização é a associação, a aliança da população ou de um segmento da sociedade em prol de uma causa. Como definimos esta população ou este segmento da sociedade? O discurso que fazemos para a mobilização está em perfeita sintonia com a causa e com o seu provável público? Que público é este?

Nos deparamos então com as questões do discurso. Toda ação pressupõe uma comunicação, senão a primeira não seria possível. Para sustentarmos uma causa e mobilizarmos pessoas precisamos discursar sobre nossos ideais, nossos sonhos, nossos sentimentos. E estes ideais, sonhos ou sentimentos têm que estar em convergência de interesses com os públicos. Como teremos a certeza de que nossa capacidade de emissão será assimilada, apreendida, aceita e adotada? Não teremos.

Os públicos são formados através de uma interação dialógica, que quando ocorre possibilita a formação de interesses ou vontade comuns. Esses interesses ou vontades comuns fazem parte da construção social de uma realidade que passa a produzir sentidos comuns.

A partir daí podemos então supor que um discurso só mobiliza públicos, que forem por ele afetados e levados a uma vontade comum, gerando uma tensão que os forçará ao movimento e conseqüentemente à ação.

Supondo que a mobilização social é um dispositivo dialógico para a sustentabilidade, podemos então partir para mais uma reflexão. Se mobilizamos um público através de um discurso que os leva a ação por uma vontade comum, então poderemos dizer que teremos um processo homogêneo, duradouro e que possa convocar em todas as suas fases novos públicos em prol da causa? Não.

A mobilização inicial não garante perenidade, não garante visibilidade eterna. A sustentabilidade só será possível na reconstrução constante de um novo processo dialógico, na análise dos novos tensionamentos e na criação de novas e constantes estratégias de visibilidade.

Uma mobilização para a sustentabilidade prevê revisões constantes de formas discursivas, de novos acordos entre os públicos e de cessão ou negação de partes. A sustentabilidade pressupõe a luta constante da legitimação da causa e do seu público. Um embate dialógico e político em prol do reconhecimento.

Anita Cardoso Magalhães é membro do Grupo de Pesquisa “Comunicação no contexto organizacional: aspectos teórico-conceituais” (CNPq/PUC Minas). É mestranda em Comunicação Social pela PUC-Minas, especialista em Gestão em Responsabilidade Social Empresarial, graduada em Relações Públicas e consultora na área de comunicação organizacional.
E-mail:amagalha@uol.com.br

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